Logo Tide Social

População de rua da capital é maior que a de 80% das cidades do estado

Orbi Band

Número de pessoas que vivem nas vias de São Paulo aumentou mais de 1.250% entre 2012 e 2023, passando de 3.842 para 52.119, mostra estudo da UFMG

São Paulo, a cidade mais rica da América do Sul, tem praticamente um município de porte médio vivendo nas ruas. Levantamento da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), com base em dados do CadÚnico, mostra que a capital paulista alcançou 52.119 pessoas em situação de rua em maio deste ano. O número é maior que a população de 513 dos 645 municípios do estado – cerca de 80% –, e equivale a todos os moradores da cidade de Louveira, na Região Metropolitana de Jundiaí. Os dados populacionais utilizados na comparação foram revelados na semana passada pelo Censo 2022, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística).

O recorte da UFMG sobre os moradores de rua também traz aumento alarmante nos últimos dez anos. Em 2012, eram 3.842 pessoas vivendo nas vias de São Paulo, população que cresceu 1.256% na comparação com maio deste ano.

São 206.044 pessoas em situação de rua no Brasil em 2023. São Paulo é o líder no ranking entre os estados, com 86.782. E o número pode ser ainda maior, já que a subnotificação média do país está atualmente em 33%.

“A situação é reflexo da falta de políticas públicas estruturantes de um país extremamente desigual. O Brasil, historicamente, é marcado por inúmeras condições de desigualdade social, uma violência estrutural contra a população”, afirma o professor André Luiz Freitas Dias, um dos coordenadores do observatório da UFMG.

Segundo Dias, outros três pontos explicam o fenômeno: interrupção de vínculos familiares, precarização das moradias e racismo estrutural. “A cada dez pessoas em situação de rua no Brasil, sete são negras. Na Bahia, esse número chega a 93%. Isso não é coincidência, é violência estrutural. Após a abolição da escravatura, em 1888, a população negra foi jogada nas ruas das cidades”, diz. Ele também afirma que o início da pandemia de Covid-19, em 2020, intensificou a situação.

Fio condutor

Se por um lado são 52.119 pessoas em situação de rua em São Paulo, na outra ponta do problema, a capital conta com 588.978 domicílios desocupados, de acordo com o Censo 2022. O número dobrou em comparação com 2010.

Proporcionar moradia é o primeiro passo porque a casa é o fio condutor de uma série de ações, explica o professor André Dias. “É a partir da casa que você articula saúde, inclusive a mental. Você proporciona assistência social, educação, capacitação e trabalho. É inadmissível que São Paulo, a cidade mais rica do país, não cumpra com a Constituição, com o direito à moradia. São milhares de domicílios sem função social. É inadmissível tantas casas sem pessoas e tantas pessoas sem casas.”

Segundo a prefeitura, um estudo de 2021 da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social apontou que 31.884 pessoas vivemnas ruas da capital. A gestão municipal afirmou que não há como comparar com os dados do CadÚnico.

A prefeitura também ressaltou que possui a maior rede socioassistencial da América Latina, com “mais de 24 mil vagas de acolhimento para as pessoas em situação de rua”, e que a Operação Baixas Temperaturas está em vigor.

Ajuda que aquece

Com a chegada do inverno, uma onda de solidariedade também se espalha com diversas campanhas para ajudar quem precisa nas noites frias da estação.

A SP Invisível traz todos os anos o Inverno Invisível. Nesta edição da campanha, a meta é distribuir 10 mil kits com moletons novos para as pessoas em situação de rua. “Acreditamos que uma peça de roupa nova é um símbolo de dignidade e carinho”, diz André Soler, co-fundador da ONG. É possível colaborar com o projeto doando pelo site spinvisivel.org/inverno ou pelo Pix [email protected].

Com as baixas temperaturas, o governo de São Paulo decidiu abrir a estação Pedro 2º, da linha 3-vermelha do Metrô, para aqueles que não possuem abrigo, das 19h e 8h. O local atende até 100 pessoas por dia.