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Que tipo de empresa é a sua: a que assiste à crise ou a que está no campo de batalha?

Mariana Franceschinelli
Mariana Franceschinelli
Sócia Fundadora da agênciamam Relações Públicas e da Tide Social

O caos gerado pelo COVID-19 trará grandes consequências para todos, inclusive para as marcas. Ficar na arquibancada tende a ser um dos maiores erros estratégicos que as empresas podem cometer.

Embora o nervo central da pandemia e suas consequências tenham origem na área da Saúde, os impactos que o COVID -19 vem causando afeta – e irá afetar, no pós-crise – a “imunidade” econômica do país.

O cenário preocupa: na educação, só em São Paulo, segundo o último Censo Escolar, 11,9 milhões de estudantes (que correspondem a 36% do total de matrículas no Brasil) de mais de cinco mil escolas estaduais estão em casa. A solução para o problema é a oferta do aprendizado a distância – prática que é rotina nas instituições particulares. No entanto, segundo a Pesquisa TIC Domicílio, realizada em 2018, mais de 30% das casas não têm, sequer, conexão com a internet – em geral as mais pobres, ampliando a desigualdade já existente na qualidade da educação pública oferecida no nosso país.

Organizações sociais sem fins lucrativos, voltadas à assistência social, saúde, cultura, ao esporte, lazer e a outros serviços relevantes prestados à população de baixa renda tiveram de parar, gerando mais incertezas ao público que atendem. Muitas se sustentam de eventos para arrecadar fundos e de repasses do poder público para cobrir seus gastos de atendimento. Ambas as fontes de recursos estão escassas e podem diminuir ainda mais no pós-crise.

O mais curioso é que justamente essas organizações estão no fronts, realizando iniciativas para minimizar os efeitos da pandemia nas populações das periferias, que contam com pouco apoio público.

Embora exista um amplo movimento natural de muitas empresas, mobilizadas pela sensibilização e empatia, direcionando à Saúde insumos e recursos, ainda estamos longe de arrumar todo o “estrago”. Isto porque a Saúde é só uma peça do grande quebra-cabeça que precisamos montar para vencer a crise.

Velhos e novos apoios

Sua empresa tem um braço social definido que já aporta investimento em causas? Na pandemia, quais ações ela está desenvolvendo com instituições sociais parceiras? Você sabe como anda a saúde econômica das organizações que sua empresa apoiou no passado?

Essas questões precisam ser respondidas, com opções práticas de como a sua marca pode fazer mais e melhor ao ecossistema onde as instituições estão inseridas, casando propósito da empresa com necessidades das ONGs. Afinal, a causa da sua marca não precisa mudar por conta da crise. A nossa posição, do ponto de vista de comunicação, é que, embora seja emergencial, é uma crise passageira. A marca que tem um propósito claro, não deve mudar sua crença por conta de uma crise – mesmo dessa magnitude.

Apoiar organizações da sociedade civil é ajudar a dar continuidade a um trabalho essencial de diminuição do impacto do vírus, especialmente em uma fase em que as desigualdades sociais ficam ainda mais escancaradas – e suas consequências respingam em todos nós.

O que o COVID-19 pode trazer ao fortalecimento do braço social de sua empresa são causas mais ligadas ao seu negócio. O papel de sua marca é justamente identificá-las para criar estratégias de contenção aos problemas causados pela pandemia.

A saúde de sua empresa

Vale ressaltar que fases como esta podem levar as marcas por três caminhos:

1.    elas se enfraquecem, porque pouco se posicionaram ativamente na crise;

2.    elas se mantêm no lugar, sem ganhos, nem perdas, sendo “mais uma marca”;

3.    elas se fortalecem e se tornam referências nas suas áreas de atuação, graças as ações que implementaram para ajudar organizações sociais a atenderem seus beneficiários com a mesma qualidade dos serviços prestados.

Com ou sem pandemia, os consumidores do século 21, conhecidos como 4.0, estão mais exigentes. Querem ser “abraçados”, sentindo-se “parte” do produto ou serviço que adquirem. Desejam fazer diferença, direta ou indiretamente, na realidade atual. Por isso, entre escolher uma marca que oferece um produto mais barato e aquela, um pouco mais cara, fabricada sem agredir o meio ambiente, uma grande parte do público ficará com a segunda opção. Prova que essa postura é real está no resultado de uma pesquisa realizada pela Ipsos Global Reputation Center: 82% dos consumidores preferem marcas que estejam engajadas em fazer deste mundo um lugar melhor para se viver.

O que aprendemos com tudo isso afinal? Diante da crise anunciada que o COVID-19 está traçando para a economia no curto e médio prazo, ser visto e reconhecido como parte da solução é, além de essencial para o bem-estar coletivo, uma maneira concreta de ajudar o seu negócio a passar pelo processo de reconstrução econômica com uma certa margem de segurança. 

Por isso, olhar ao redor, analisar o que sua empresa tem a oferecer às organizações sociais que já faziam parte do seu ecossistema e que atendem populações relacionadas ao seu propósito, produto ou serviço tende a trazer bons resultados, porque ajudará a salvar vidas – e marcas.

Referências

  1. https://www.educacao.sp.gov.br/censo-escolar/
  2. https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/coronavirus-no-brasil-como-a-pandemia-prejudica-a-educacao/
  3. https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2020/04/ongs-pedem-socorro-para-enfrentar-efeitos-imediatos-da-pandemia.shtml