Quando uma empresa decide abraçar uma causa, ela precisa já ter respondido algumas perguntas muito antes de definir planos e ações:
- A causa dialoga com o propósito, valores e missão da empresa?
- Fortalece a marca em toda a sua cadeia produtiva?
- Gera mudanças sistêmicas e sustentáveis, melhorando a vida de pessoas, comunidades ou o meio ambiente?
- Tem aceitação e adesão de seus colaboradores, em todos os escalões?
As questões não se esgotam aqui, mas estas são as básicas para começar. E é especialmente sobre a última delas que vamos falar nesta nossa conversa.
De cima para baixo, de baixo para cima
Vamos supor que a empresa X adotou a causa do meio ambiente, com ações voltadas à comunidade do seu entorno, como preservação da mata, limpeza de córregos, investimento em energia limpa, apoio à cooperativa de reciclagem…
Ela promove uma grande campanha de conscientização nas suas redes sociais e na imprensa local, promove o plantio de árvores, investe em cursos de reciclagem de lixo, ensina a economizar água aos moradores do território.
No entanto, no cotidiano, os funcionários não assumem uma atitude sustentável nas pequenas coisas do dia a dia, como a economia de papel para impressão ou promover a coleta seletiva de lixo das suas unidades. Na parte de cima da hierarquia, os diretores vivem alheios e não se engajam nas ações, nem nas campanhas. Se o cenário é este, podemos dizer que tanto empenho virou um projeto da área de responsabilidade social e, provavelmente, não terá muito sucesso. Recursos, tempo e até credibilidade da marca estarão em risco.
Por isso, quando se pensa em uma causa, ela tem de ser trabalhada numa visão 360 graus. A liderança de causa da marca tem de estar preparada para ouvir, mobilizar, engajar. Todos precisam se envolver, verdadeiramente, cada um à sua maneira. Se uma engrenagem da cadeia não funcionar, os resultados ficarão comprometidos.
Como engajar, preparar e mobilizar de dentro para fora
Uma das maneiras de envolver os diferentes escalões da empresa na atuação social é garantir ações internas coerentes com a causa. Por exemplo, se a bandeira levantada pela corporação é a diversidade de raça e gênero e não há negros, pessoas com deficiência, mulheres e LGBTI+ no quadro de colaboradores, nos diferentes postos, então, não faz qualquer sentido. É preciso articular ações afirmativas que mudem esse cenário.
Também não faz sentido assumir esse tema se o preconceito e os vieses inconscientes presentes entre colaboradores não são trabalhados por meio de iniciativas intencionais e educativas que promovam diálogos, transformando culturas e comportamentos enraizados.
Por isso, rodas de conversa, campanhas de conscientização, comitês de equidade, conselhos consultivos que espelhem a diversidade se tornam imprescindíveis para que o que é dito para fora faça sentido e ganhe voz dentro das corporações.
A equipe de comunicação tem papel fundamental nesse processo, ao lado das áreas responsáveis em fazer a causa dar certo para todos. Criar meios para divulgar e mobilizar os colaboradores deve ser objetivo desse trabalho conjunto para que nada se perca.
Voluntariado: um ótimo caminho
A ideia de abrir espaço para o voluntariado corporativo é o começo de uma atuação mais efetiva em favor de uma causa, mas não deve ser a única. Muitas marcas podem até justificar: “Na minha empresa temos ações de voluntariado. Nossos colaboradores já são protagonistas desse processo”. Mas será que são mesmo?
Para que haja o pleno envolvimento das equipes, é importante que elas sejam estimuladas à participação desde o começo. Ou seja, ouvir, aplicar pesquisas internas, captar feedbacks dos colaboradores para construir o programa de voluntariado é meio caminho andado na direção de um protagonismo eficiente.
Sabemos que cada pessoa tem a sua causa e nem sempre ela está afinada com a causa da empresa, mas, se o colaborador já é engajado, as chances de ele se envolver nas causas da corporação aumentam exponencialmente, afinal, são os colaboradores os maiores mobilizadores de causas que uma marca pode ter, um tema que vamos abordar em um próximo artigo.
As vantagens da adesão das equipes
Para além dos benefícios que a causa tende a garantir ao seu público-alvo, existem aqueles que fortalecem o “lado de dentro” da empresa. Quando as ações são pensadas com a participação ativa dos colaboradores, há uma mudança significativa nas posturas e nas relações, porque:
- Aproxima as pessoas
- Favorece o clima de cooperação e solidariedade
- Desenvolve lideranças
- Evidencia talentos criativos
- Gera ambientes participativos e comprometidos com os resultados
- Amplia o desenvolvimento de habilidades socioemocionais na equipe
- Promove mais qualidade ao trabalho
- Fortalece a produtividade
- Contribui para a retenção e atração de talentos
Ou seja, se a equipe está realmente engajada e mobilizada, a causa deixa de ser apenas um objetivo social do RH, do Marketing ou da diretoria e se torna uma missão coletiva, de todos que fazem parte da empresa e se sentem responsáveis pelo seu sucesso.
Então, o que você está esperando para adotar uma causa que pode mudar tantas pessoas, de dentro para fora?