O que você acha que pode acontecer quando várias multinacionais se unem para defender a mesma causa? Ou, indo além, os CEOs dessas corporações assumem o papel de porta-vozes? Avançando mais: e se nessa rede de corporações coexistirem empresas concorrentes?
Essa é a cereja do bolo da responsabilidade social corporativa: um conglomerado de empresas cujos C-Levels (executivos do topo da hierarquia) falam a mesma língua e olham para a mesma direção com o objetivo de levantar uma bandeira essencial ao desenvolvimento e à sustentabilidade da sociedade e que agregue valor às suas marcas. Uma espécie de match de causas.
Você deve estar se perguntando em que país isso acontece. Em vários, inclusive no Brasil. Um exemplo é o Mover (Movimento pela Equidade Racial), uma organização sem fins lucrativos, criada por executivos de grandes marcas para combater o racismo, especialmente no ecossistema corporativo.
Os presidentes dessas companhias são ativos, postam reflexões sobre o tema nas suas redes sociais, promovem o diálogo, realizam ações concretas para enfrentar o preconceito racial. Eles geram impacto social.
Outro bom exemplo, que a Tide Social acompanha de perto, é o Instituto Órizon, referência em venture philanthropy no Brasil. A iniciativa, inédita na indústria de private equity no País, conta com a participação de quatro fundos de investimentos que se uniram para coordenar esforços e potencializar a eficácia do capital aportado em filantropia. A concorrência fica de lado para dar espaço a um movimento coordenado em defesa de uma causa.
Um percurso a percorrer
É claro que para se chegar a esse nível de pactuação, é preciso que equipes e governança das empresas passem por algumas etapas anteriores, como:
- Criar políticas internas com ações afirmativas que defendam a causa
- Mobilizar e sensibilizar a alta liderança da empresa para uma mesma causa
- Garantir, internamente, o letramento de todos e todas sobre a causa defendida
- Ter a causa como um valor para o negócio, ou seja, muito além de um projeto pontual
A partir desse olhar para dentro, é possível promover articulações com outras corporações e parceiros para se criar uma rede que atue integrada e de forma coletiva, com o objetivo de disseminar a causa social ou ambiental – e construir, colaborativamente, soluções para defendê-la.
Superando a concorrência
Quando a causa se torna o foco, e os C-Levels vestem a camisa do impacto, as marcas se juntam e a concorrência fica para um segundo plano. Tal postura é vista com bons olhos pelos consumidores e investidores, ou seja, no lugar de fragilizar a credibilidade ou a fidelização à marca, as empresas ganham pontos na avaliação de seu público-alvo.
Além disso, a possibilidade da troca de experiências e desafios entre os membros dessa rede é uma arma eficaz para avançar nas questões que impactam o fortalecimento da causa dentro das empresas. Ganha-se tempo – e recursos – quando soluções bem-sucedidas são compartilhadas e podem servir a outros contextos.
Alguns passos para fortalecer a rede
Depois que as corporações se reúnem em torno da causa, é essencial pensar em alguns encaminhamentos para levar à prática as intenções da rede:
- Elaborar diagnóstico em cada empresa para entender a causa entre os colaboradores
- Definir metas claras para chegar ao objetivo traçado pela rede
- Elaborar estratégias de atuação comuns à rede e específicas para cada empresa
- Pensar em ações coordenadas para fomentar a causa dentro e fora da rede
- Promover uma comunicação integrada, envolvendo as redes sociais dos CEOs e demais colaboradores
- Fomentar o diálogo permanente entre os C-Levels
- Estruturar iniciativas de call action para ampliar a rede
- Pensar em grupos de trabalho para as diferentes frentes que envolvem a causa
- Organizar um comitê gestor responsável pela tomada de decisões
Estes são alguns dos tópicos que podem fazer a engrenagem da rede girar e ganhar tração. Mas é claro que tudo depende das empresas parceiras e da causa assumida para traçar planos de ação que comunguem com os valores e propósitos de cada corporação.
O que fica claro, diante de desafios macros, como a inclusão social e profissional de todos e todas, ou de temas sobre preservação do meio ambiente, combate à corrupção, por exemplo, é a urgência de se contar com uma força poderosa e mobilizadora para protagonizar mudanças em culturas enraizadas. Força essa que ganha peso quando as marcas é que formam a comissão de frente.
Queremos mudanças, sonhamos com dias melhores, lutamos por prosperidade. Desejos comuns que podem ser realizados, sem perda de tempo, tecendo redes de colaboração, mobilização e resistência. Que tal você também pensar nisto?